O que significa ser um escritor?


Desde novinho eu pensava em ser escritor. Eu via aquelas histórias de fantasia, cheias de personagens magníficos, seres surreais, enredos eletrizantes e imaginava como seria o dia em que eu me tornaria um escritor daqueles. Como seria o dia em que eu poderia olhar para a estante e ver os livros que escrevi ali.

Só que eu nunca consegui isso. 

Eu cheguei a escrever algumas histórias e criei um universo cheio de criaturas, reinos e mitologias, mas que nunca foram para frente de verdade. Esses esboços ainda existem, mas acho que passei tanto tempo pensando no universo em que eu queria que minhas histórias se passassem, que acabei esquecendo da coisa mais importante nisso tudo: eu não escrevia as histórias que eu queria contar. 

E quando eu finalmente consegui escrever parte dessa história, eu já estava cansado daquele universo, já não tinha mais vontade de falar sobre fantasia, não queria mais saber de contar histórias sobre guerras, feitiços e dragões (sim, é óbvio que tinham dragões no meu universo).

A questão é que eu só fui me tocar recentemente de que eu tinha saturado a minha cabeça, depois de mais de 15 anos mergulhado em escritas e reescritas de um mesmo universo fantástico. Eu não sabia que eu estava me desgastando, eu só amava demais aquele lugar que eu tinha criado e queria ficar cuidando dele como uma mamãe gato cuida dos seus filhotes. Mas ao contrário da mamãe gato, eu não estava pronto para permitir que o meu filhote crescesse e se tornasse, de fato, um livro. E por nunca ter finalizado nenhuma dessas histórias, eu nunca me considerei um escritor.

Só que, me dar conta de que eu estava saturado de histórias fantásticas não foi a única realização que tive recentemente.

Desde o começo de novembro, eu tenho escrito quase todos os dias. Eu comecei com diários no Obsidian, falando sobre todos os meus dias, e comecei a colocar também alguns pensamentos em um caderno, que acabou tomando o lugar do meu diário digital, se tornando meu diário em si. Diferente do diário digital, onde eu contava como eu me sentia durante o dia e o que havia feito, o caderno se tornou um lugar onde eu simplesmente deixava minha escrita fluir para onde ela quisesse ir.

Em menos de um mês, eu encontrei minha voz nesse tipo de escrita e isso abriu uma nova porta para escrever textos como esse, que nada mais são do que uma espécie de miniensaios sobre coisas que acontecem na minha vida ou sobre pensamentos que surgem do grandioso nada.

Esses textos são muito menos pessoais do que os textos que eu escrevo no meu caderno/diário, até porque, lá ninguém lerá além de mim, então eu coloco umas coisas que, no máximo, eu leria para a minha psicóloga, mas talvez nem isso. Aqui, eu dou minha opinião e escrevo sobre algum tema que eu acho válido ser compartilhado.

E então eu chego na outra realização que tive (que eu acabei não falando o que foi). Eu entendi que sou sim um escritor. Talvez não da forma como eu imaginei que seria quando era mais novo, o tipo de escritor que teria diversos livros com histórias incríveis sobre dragões, mas um escritor que compartilha sentimentos e pensamentos comuns a grande parte dos seres humanos. Um escritor que simplesmente traduz o que está dentro de si para as palavras escritas, da mesma forma que um pintor faria isso com pincel e tinta.

O conceito de escritor que o Francisco de 12 anos tinha era muito diferente da realidade. Ou, talvez, fosse apenas muito limitada na época. Se quem pinta é pintor, quem escreve é escritor. É simples assim. Mas a alcunha de escritor, assim como a de artista, é comumente vista como algo difícil de ser alcançado, que só pessoas com o "dom" conseguem chegar lá, quando, na verdade, você só precisa ter o que dizer e saber como traduzir isso em palavra escrita. Ser escritor é muito mais fácil e simples do que parece.

E sim, o escritor é um artista, todo mundo sabe disso, mas essa não é uma alcunha que eu me coloco, pelo menos não ainda. Talvez por pensar um pouco da mesma forma que critiquei no parágrafo acima. Mas isso é assunto para um outro texto.

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