La stella e il marinaio


A graça de guardas as coisas é que, de repente, você pode reencontrá-las quando menos espera e em contextos que seriam tão improváveis quanto o momento que chegaram até você.

Há cerca de 5 anos, eu conheci uma pessoa e um assunto muito presente nas nossas conversas era música. Ela, italiana, falava muito de um certo rapper, que possuía letras profundas, uma voz grave e rouca e harmonias que fugiam do que nós podemos pensar como o "padrão" para o rap.

No dia em que precisamos nos despedir, pedi para que anotasse algumas músicas que ela achava que eu deveria ouvir. Eu podia ter dado o meu celular para ela escrever uma nota ou passado o meu número para me enviar uma mensagem com as músicas. Talvez até me passar o link da sua playlist. Mas o que tinha a mão era um caderninho, recém feito. Em uma página em branco, ela escreveu uma pequena lista com os nomes das músicas.

Essas músicas nunca chegaram a virar uma playlist presente no meu dia a dia, mas, nas últimas semanas, eu tenho usado aquele caderninho como meu caderno de bolso, para escrever sempre que pensar em alguma ideia, e tive uma grata surpresa quando redescobri essa lista e pude revisitar aqueles dias em Paraty, quando ela falava tão empolgada sobre as letras que Murubutu escrevia.

Recentemente, eu tive a chance de reencontrar essa pessoa. De surpresa, o universo se alinhou para esse encontro acontecer, infelizmente, de forma muito breve, mas que me fez lembrar mais uma vez dessas músicas e de como procurar por cada uma delas quando as quero escutar, sem colocar em nenhuma lista que passa despercebida no cotidiano, faz com que se tornem especiais, tão especiais quanto esse encontro que a vida fez acontecer.

Às vezes, a vida vai te mostrar pessoas que estarão presentes na sua vida a maior parte do tempo, como uma amizade que é parte da sua família. E terão outras vezes em que aparecerão pessoas, com quem você vai construir uma relação muito rápida, mas que permanecerá na sua memória, em um lugar de carinho e admiração, te marcando para sempre com coisas muito simples e, mesmo assim, absurdamente importantes.

Reencontrar essa pessoa depois de quase meia década reacendeu algumas coisas há muito adormecidas no fundo dos meus pensamentos e, principalmente nesse momento da minha vida, foi muito importante para mim.

Sim, eu estou romantizando, mas será que isso é ruim? A vida é tão cheia de sofrimento, de maldade, de sentimentos negativos. Se a gente não romantizar as coisas simples e fazê-las ocuparem um lugar de importância, que graça tem estar vivo?

Comentários