Será que eu tô velho?

Acho que o ser humano, pelo menos o ser humano do século XXI, tem uma tendência muito perigosa de sempre achar que é tarde demais para realizar algo. E eu falo isso como uma pessoa que sentiu bastante isso até bem pouco tempo.

Antes de fazer terapia, eu achava que minha vida tinha chegado no limite. Eu tinha 25 anos, sem faculdade, nunca tinha estado em um relacionamento e me via incapaz de realizar qualquer coisa, porque, na minha cabeça, eu achava que estava velho demais para isso. Como assim eu tinha 1/4 de século de idade e não estava no emprego dos sonhos, casado, com um cachorro e um gato?

Quando você termina o Ensino Médio, existe uma pressão para começar uma faculdade imediatamente, porque você não pode ficar parado, tem que produzir, tem que seguir a sua vida. Mas me fala quem, em plena ignorância dos 17/18 anos, sabe o que quer fazer da vida? Tem muita gente com 4 vezes essa idade que não sabe ainda. E tá tudo bem isso.

A lógica de que temos que seguir um padrão de vida criado por pessoas do século passado é algo que só dificulta e atrapalha o desenvolvimento do ser humano (vou tentar não falar de capitalismo aqui hoje). Uma exigência que não era para existir e que coloca o jovem recém-formado na escola em uma saia justa extremamente tóxica, gerando frustração, ansiedade, medo, tristeza e mais um monte de sentimentos ruins.

É claro que isso não é uma verdade absoluta. Tem muita gente que sabe o que quer desde os 15 anos e vai se formar na escola, entrar para a faculdade que sempre sonhou e seguir uma vida feliz, trabalhando naquilo que nasceu para fazer. Mas isso está longe de ser uma regra.

Então, aquela pessoa que não entra para a faculdade assim que termina o Ensino Médio ou que não consegue ficar satisfeita com as escolhas que fez e acaba abandonando, começa a se sentir mal, achando que perdeu tempo, que uma parte muito importante da sua vida foi jogada fora e já era. Ela se torna, na própria cabeça, uma pessoa fracassada.

Isso também vale para relacionamentos. Se não encontrou uma pessoa para casar com 20 e poucos anos, você é o encalhado, que vai "ficar para a titia". Já parou para pensar como isso pode afetar a cabeça de uma pessoa? É muito cruel.

Depois de mais de um ano de terapia, eu posso dizer com segurança que eu não tenho mais isso (um beijo, Mariana). Claro, volta e meia, em momentos de fragilidade, essas crenças são ativadas (ainda quero falar mais sobre crenças em outro texto), mas eu tenho as ferramentas para lidar com elas e logo passa. Eu sei que, com 27 anos, eu não estou velho demais para encontrar uma pessoa para dividir minha vida, assim como não estou velho demais para começar uma faculdade. E é justamente por conta desse último ponto que eu decidi fazer esse texto.

Há uma semana, eu prestei vestibular para Letras, no Cederj. É uma prova bem mais simples que o ENEM, sem dúvidas, mas para alguém que não via um vestibular há quase 10 anos, foi um desafio. Eu fiquei muito nervoso, com muito medo de não passar e a maldita crença de que eu não sou capaz de fazer algo mais da minha vida começou a voltar. Mas eu consegui me acalmar por conta dessas ferramentas que a terapia me deu. Tenho que dizer, eu também tenho amigos incríveis que me ajudaram nessa e eu sou extremamente grato a essas pessoas por isso.

Enfim, o resultado oficial ainda não saiu, mas são 22 vagas de ampla concorrência para Letras e, contando apenas pela nota da prova de múltipla escolha, eu estou em 5º lugar. Ainda falta a nota da redação, mas eu acho difícil eu tirar uma nota tão ruim ao ponto de descer tanto e não entrar. E se eu não entrar, tudo bem também. No meio do ano tem outro, eu posso tentar de novo quantas vezes eu quiser.

Eu decidi de última hora em 2024 que eu iria tentar uma faculdade mais uma vez, para seguir aquilo que eu sempre quis e não sabia: dar aula. Sempre que eu tento me visualizar em um "emprego ideal" eu me vejo dentro de uma sala de aula. Eu quero ser para os jovens da escola pública o que Marcos, Priscila, Sueli, Valdir, Maria e tantos outros foram para mim quando eu era mais novo. Quero tentar mostrar que a educação é o melhor caminho para atingir os objetivos, não só profissionais, mas de vida. Ela te ensina a pensar, ela te dá ferramentas para saber lidar com as adversidades que a vida coloca no nosso caminho. A educação é libertadora.

Se você chegou até aqui e volta e meia pensa que já é velha ou velho demais para realizar algo, pense mais um pouco. Se você não fizer nada, sua vida vai continuar igual. Mas se der o primeiro passo, pode ser que ela se transforme drasticamente para algo muito melhor, então não precisa ter medo.

Nunca é tarde para esse primeiro passo.